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MINHA EXPERIENCIA COM O VOCACIONAL –CCJ 2018-
Diz o poeta alemão Bertold Brecht: “De nada vale
partir das coisas boas de sempre, mas sim das coisas novas e ruins.”
Ruim pra mim, que tive que jogar a preguiça de lado,
não sei se é deste ruim que o Brecht diz nessa frase, mas é com essa impressão
que eu fico e tomei pra mim. Tentar ser ator num mundo de hoje é um ato para
malucos, ou um pouco menos que isso, eu diria, apaixonados. Ter uma deficiência
física no meio disso tudo, faz a gente querer pensar em desistir do ofício
diversas vezes, muito mais do que suas contas chegando, ou os seus pais
perguntando se você quer morrer de fome. A televisão quer pessoas com corpos
“bonitinhos” e tudo bem se você vai fazer uma madame ou um porteiro, desde que
você tenha todos os dentes no lugar. Daí
bate a preguiça de querer continuar estudando, de continuar se percebendo. Pensava
eu: “Ler Stanislavsky pra quê? se por mais que isso seja essencial eu não tenho
o tal physique du rôle que tanta gente diz que é necessário se ter pra ser um
bom ator” Tomara que eu seja um ignorante ao dizer isso, mas a maioria das pessoas veem deficientes sendo
incluídos e isso é a coisa mais “fofinha” do mundo. Quando eu comecei no
vocacional as pessoas começaram a perguntar se eu fazia parte de um projeto de
inclusão, se tinham outras pessoas com deficiência, e não a quanto tempo eu sou
ator e trabalho com isso, elas não esperam que você seja um artista qualquer,
esperam que você deixe de ser uma caixinha de cristal fora da roda, e só! Daí
vem a preguiça, só que quando você começa a ser cobrado dentro de um processo
como qualquer outro ator dentro de uma peça, os seus conflitos internos mudam,
você se anima e tenta descobrir ao lado do diretor porque você deambula assim, se é condicionamento, se é devido a
alguma lesão. Por que seus braços se movem assim, por que suas pernas se mechem
desse jeito, tem certeza de que isso foi devido a paralisia cerebral ou é só um
hábito seu? A partir desses questionamentos, dessa pesquisa trabalhosa, porque
nunca parei pra pensar nisso nos meus 25 anos de idade, entendi que sim, possuo
condicionamentos, vícios, como qualquer outro ator no mundo e que pra criar a
minha persona alguns desses condicionamentos podem ser quebrados, remodelados,
excluídos. Então eu comecei a ser cobrado dentro do processo do vocacional como alguém que é capaz de moldar, de
construir algo, e não como um bebê que recebe palmas por fazer montinhos de
areia, porque eu tive a chance de me fragmentar e ter uma perspectiva a partir dos meus limites como qualquer outro
ator tem que ter. Então a partir dessa cobrança séria eu pude desenvolver o meu
trabalho e me sentir um ator que foi incluído dentro do vocacional, dentro de
uma peça, e não um deficiente que foi integrado.